segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Na solidão do monitor

Ela estava ali diante da tela do computador que era sua única companhia diante da sua solidão.
Vez por outra, olhava sua caixa de e mails para procurar uma possível mensagem que, intimamente, sabia que não viria.
Ficaria fazendo isso até, seus olhos exaustos desistirem e então, apagaria seu computador.
Sabia que isso já estava se transformando num h[abito terrivelmente doloroso,
Imaginava agora, dentro da sua dor carente, porque um homem se aproximara tão insistentemente pela sua atenção....
Tanto que Ela tentara não se envolver...
Sua vida estava tão tranqüila, amarga é bem verdade , mas tranqüila...
Ai ele surgiu tão solícito, tão sedutor e havia derrubado todas as suas barreiras.
No início as mensagens eram tão constantes, os torpedos pelo celular, o coração disparado, a falta de ar...
Foram tempos tão felizes
Ele não cansava de tecer elogios sobre seus emails e até seus torpedos pareciam algo especial...

- Suas mensagens parecem peosias, diria Ele certa feita
- Fico encantado com a forma como você me anima cada manhã – derretia-se Ele em um torpedo

Ela vivia acima do chão. Depois de tanto tempo de solidão, parecia que Deus resolvera lhe dar uma chance.
Todos se impressionavam com sua jovialidade.
Ele sempre estava pronto em lhe atender o menor capricho, o menor pedido.
Sempre que podiam estavam juntos, apesar dele morar em outro estado.
A distância nem o tempo eram suficientes para diminuir aquela sensação perene de magnitude...
Viajaram juntos, fizeram planos...
Ensaiavam futuros
Mas o tempo passou
E Ele foi desaparecendo aos poucos...
As visitas começaram a rarear.
Ela fingia não perceber
Depois Ele foi deixando seus emails sem resposta.
Outras vezes ele se inquietou com a quantidade de mensagens que ela lhe enviava...
Ela tentou não escrever mais, esperando que um dia ele sentisse sua falta
E Ele nunca sentiu....
E ai cada vez mais o espaço da sua solidão foi aumentando...
Seu coração então criava justificativas, inventava histórias para sua razão;
A cada chamada de seu telefone ela corria e depois mergulhava em dor porque nunca era Ele
E mesmo assim ela continuava a mentir para si mesma...
Acreditava que ele estava muito ocupado, ou inventava outras tantas coisas impensáveis para sua dor ser menor...
E seguia dia a dia
Diante daquele monitor desgraçado que insistia em não mostrar o que Ela tanto queria
Viu sua alegria indo embora pouco a pouco...
Agora sua amargura parecia maior
Por que havia deixado se enganar tão facilmente...
Logo agora nessa idade de cinqüenta e tantos anos não era mais nenhuma uma adolescente
Por alguns meses havia sentido uma vibração tão jovem, havia rejuvenescido, havia questionado tantos valores
Quanto se faz quando se apaixona...
Agora se sentia seca....
Um dia havia tomou coragem e saiu de casa
Na companhia de uma amiga foi ao lugar que o havia conhecido...Quem sabe recordar lhe faria bem.
Depois da escolha da mesa olhou em volta
E lá estava Ele..
Seu coração disparou por alguns segundo a até perceber o pior.
Enxergou todo seu charme (tão conhecido por ela) derramado em outro alguém, uma mesa tão próxima a sua...
Ela não acreditava no que estava vendo.
Podia ter se retirado e se poupado mais...
Mas seu coração ferido não deixava com que arredasse o pé dali.
Depois de certo tempo seus olhares se cruzaram e Ela sentiu quem Ele olhava através de seus olhos...
Não a enxergava mais;
Ela havia ficado transparente para ele.
Nada é pior quando se é descartada...
Mesmo assim resolveu esperar que ele lhe dedicasse alguma justificativa na sua caixa de
emails...
E ficou esperando...
O dia começava a chegar , ela podia ver pela fresta da janela.
Sentiu um aperto no peito, um gosto amargo do fim.
Aquilo era o real !
Ela fechou seu monitor e dormiu...
Mais tarde, quando sua empregada abriu a porta de seu quarto, para trazer o seu café da manhã...
Ela estava ali...Os olhos entreabertos e um leve sorriso
O coração não havia resistido a regência da verdade.
Havia morrido por falta de amor próprio

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